Poluição por Plástico

A um ritmo de produção anual de resíduos plásticos na ordem das 300 milhões de toneladas, das quais 8 milhões acabam no oceano, em que consequências se traduzem estes números?


A questão não será tanto a circulação dos plásticos na economia – “material essencial e de excelência em vários setores e aplicações (embalagem, transportes, saúde, construção, entre outras) – leve, barato e adotável em várias aplicações (Jorge Portugal, diretor-geral da COTEC)” - mas antes a forma que tem permeado esse fluxo: dos mais recentes objetos plásticos de combate à Covid-19 – máscaras, viseiras, luvas – a todos os restantes materiais plásticos do nosso quotidiano, continuamos a observar a sua utilização de modo não sustentável, com impacto para todos: animais, humanos e todo o restante ecossistema.


Causas

Falar de resíduos plásticos é falar de lixo tóxico com potencial para danificar o ambiente pelos elementos do ar, água, terra. Quando uma certa quantidade de plástico se encontra reunida numa determinada área ao ponto de impactar negativamente e criar problemas para as plantas, vida selvagem e seres humanos, estamos perante um fenómeno de poluição.

Várias são as causas responsáveis pela poluição e que resultam de uma inadequada utilização dos plásticos. De entre as mais importantes encontram-se:

  1. Lixo “comum”: o plástico encontra-se em praticamente todo o lado (pacotes de leite, garrafas de água, etc.) e, cada vez que um destes itens é lavado ou descartado, os poluentes tóxicos do material têm maior probabilidade de entrar no ambiente; aterros sanitários são o caso mais grave, por permitirem a absorção dos poluentes pelo solo, afetando as águas subterrâneas nos anos vindouros;
  2. Sobreutilização: muito utilizado industrialmente por ser um material barato e duradouro; ser barato também influencia ser facilmente descartado pelo baixo valor que lhe está associado;
  3. Tempo de decomposição: o plástico demora 400 ou mais anos a completar o seu processo de decomposição;
  4. Redes de pesca: a atividade piscatória também é um fator considerável, pelas redes de pesca serem frequentemente feitas com plástico que se encontra longos períodos submerso na água libertando toxinas, ou mesmo quando as redes se partem e ficam depositadas no mar;
  5. Descarte de plástico e lixo: frequentemente mal gerido pois termina em lixeiras, poluindo da mesma forma que o descrito no ponto;
  6. Causas “naturais”: muitas vezes o plástico, material leve, espalha-se com ventos suaves e é levado pelas chuvas para os esgotos, riachos, rios e, finalmente, oceanos; desastres naturais como inundações também podem ser considerados como outra das causas;

Consequências

De um material tão duradouro e com um nível tóxico considerável, que efeitos nefastos esperar?

À semelhança da sua duração os efeitos sentir-se-ão a longo prazo, destacando-se principalmente:

  1. Efeitos na Saúde Humana: comemos espécies marítimas contaminadas com microplásticos, encontrados em 114 espécies pelos cientistas marítimos; também bebemos os mesmos microplásticos presentes na água engarrafada – num estudo de 2018, de um universo de 259 águas engarrafadas, apenas 17 águas estavam livres de microplástico;
  2. Fator de “stress” na cadeia alimentar: os poluentes de plástico afetam inclusive os organismos mais pequeninos como o plâncton, o que causa problemas em toda a restante cadeia alimentar pela dependência que os animais maiores têm desses.
  3. Poluição da água subterrânea: a água do mundo da qual muitos seres dependem para satisfação de necessidades básicas, além de outros fatores menos relevantes, está a ser mais afetada pelo lixo comum e plásticos;
  4. Poluição da terra: nas lixeiras, quando o plástico interage com a água forma químicos nocivos que depois se infiltram nos solos degradando a qualidade da água;
  5. Poluição da ar: frequentemente mal gerido pois termina em lixeiras, poluindo da mesma forma que o descrito no ponto;
  6. Morte de animais: muitas vezes o plástico, material leve, espalha-se com ventos suaves e é levado pelas chuvas para os esgotos, riachos, rios e, finalmente, oceanos; desastres naturais como inundações também podem ser considerados como outra das causas;



Erradicação da Poluição por plástico: soluções

A mais recente análise efetuada pela revista Science mostra que a atual abordagem de combate ao plástico não está a resultar e que, assim se mantendo, o montante de resíduos de plástico irá triplicar por volta de 2040. No entanto, a boa notícia é que utilizando a tecnologia já existente nos dias de hoje poderemos reduzir os fluxos de plástico em 80% e ainda, mediante investimento adicional, chegar próximo dos 100%.

A redução e minimização dos efeitos nefastos da utilização de plásticos tem de ser levada a cabo por todos, desde as empresas, órgãos governativos e outras instituições, até nós cidadãos, como consumidores finais com responsabilidade direta sobre o nosso comportamento e ações.

No Pacto Português para os plásticos (PPP), por exemplo, encontramos uma excelente iniciativa e esforço para a mudança do paradigma: trata-se de programa que pretende unir todos os beneficiários desde os produtores, retalhistas, Governo, até ao poder local e comunidade, para a reinvenção da utilização do plástico, de modo a se garantir que estes nunca terminem na natureza mas antes circulem pela economia durante o seu tempo de vida útil. Sintetizado nas ações abaixo expostas, este pacto pretende guiar-nos na reflexão e combate à utilização desmedida dos plásticos na sociedade.

  • Reduzir o plástico que não é preciso;
  • Reutilizar as embalagens de plástico que já temos;
  • Reciclar o que não for possível reutilizar;
  • Repensar hábitos e atitudes de consumo;
  • Reeducar e passar a palavra para um futuro mais sustentável;
  • Redesenhar para encontrar soluções à medida do planeta;

Em tempos conturbados (COVID-19), os bons exemplos permanecem

Na mais recente e atual crise pandémica observamos que o principal acessório contra a propagação viral – máscaras descartáveis -, constituído na sua maioria por partículas de plástico, acaba também por ser “descartado” na natureza, já tendo inclusive chegado aos oceanos. No entanto, e ainda que perante o ceticismo e debate mundial em torno da reciclagem destes plásticos (que eventualmente absorveram e protegeram os seus utilizadores da transmissão de partículas virais), a empresa francesa Plaxtil deu o passo em frente: através de um processo quarentena, subsequente desinfeção por luz ultravioleta e etapa de transformação, o plástico das máscaras encontrou nesta “casa” uma finalidade sustentável, ao reintegrar não só a produção e constituição de objetos de plástico ecológico produzidos pela empresa, assim como de outros materiais utilizados no combate pandémico como é o caso das viseiras.


Tiago Sargaço