O uso de máscara pode realmente salvar vidas?

Uso de máscara como forma de prevenção


Segundo a literatura científica recente:

“It’s a scientific fact that wearing one [mask] in public can help to slow the spread of SARS-CoV-2, the virus responsible for the coronavirus disease 2019 (COVID-19) pandemic.” (Collins, 2020).

Publicações científicas dos meses de julho e agosto de 2020 não deixam margem para dúvidas: o uso de máscara generalizado ajuda na prevenção do contágio por COVID-19 e, assim, a salvar vidas (Collins, 2020). Um estudo publicado a 13 de agosto vai mais longe e, através de um modelo matemático, mostra-nos que mesmo que uma determinada comunidade utilizasse apenas uma cobertura de tecido rudimentar, cujo valor de proteção é muito inferior a 100%, essa medida utilizada de forma isolada seria capaz de reduzir de forma significativa o número de mortes. No seu estudo, estes investigadores revelam claramente que há uma redução no número total de mortes e infeções pelo novo coronavírus com o aumento da disponibilidade e eficácia das máscaras. Note-se que os investigadores simularam surtos numa população fechada em que os indivíduos interagiam entre si de forma aleatória e na qual o suprimento e a eficácia de máscaras de tecido ou descartáveis de uso médico, variavam. Desta forma, foi possível simular a situação atual que se vive no mundo em que a recomendação e obrigatoriedade do uso de máscaras varia de país para país, bem como a sua constituição (Colin J Worby, 2020).


Usar máscara pode tornar a sintomatologia mais leve


Outro estudo, já datado do fim do mês de julho, sugere que apesar do uso de máscara ter como objetivo a prevenção pode também ajudar a diminuir a “dose” ou inóculo que as outras pessoas possam receber, o que se traduz em sinais e sintomas mais brandos ou até mesmo infeções assintomáticas.A teoria de que a exposição a um inóculo ou a uma dose menor de qualquer vírus (seja respiratória, gastrointestinal ou sexualmente transmissível) pode tornar a doença subsequente muito menos provável de ser grave foi descrita pela primeira vez em 1938. Esta teoria baseia-se na dose letal de 50% (LD50), que reflete a dose de vírus na qual 50% da população exposta morre; foi determinada através de estudos controlados nos quais uma gama de doses de exposição é administrada a animais para calcular uma curva de mortalidade por dose. No caso humano, os estudos foram limitados a vírus não letais, como foi o caso da investigação para o desenvolvimento da vacina para o vírus Influenza A – investigação que revelou que, com uma maior dose de vírus, se produziu sintomatologia mais severa. Perante a pandemia que vivemos, não é ético realizar estudos em humanos em que se administram doses variadas de SARS-CoV2 para esta finalidade. Assim, o estudo referido anteriormente utilizou hamsters para provar que usar máscara pode tornar a sintomatologia mais leve (Monica Gandhi MD, 2020).


Uso de máscara em Portugal

No que diz respeito ao território nacional, o uso de máscara contempla uma medida adicional ao distanciamento social, à higiene das mãos e à etiqueta respiratória como forma de prevenção contra a COVID-19. O governo decretou como obrigatória esta medida para todas as pessoas que permaneçam ou acedam a espaços interiores fechados com várias pessoas ou que utilizem transportes públicos. O SNS adverte ainda:

“A população geral poderá utilizar as máscaras comunitárias e quem pertence ao grupo de risco deverá usar máscaras cirúrgicas.”

Maria Moreira

Bibliografia

Colin J Worby, H.-H. C. (13 de agosto de 2020). Face mask use in the general population and optimal resource allocation during the COVID-19 pandemic . Nature Communications.


Collins, D. F. (25 de agosto de 2020). Masks Save Lives. NIH Director's Blog.


Monica Gandhi MD, M. C. (31 de julho de 2020). Masks Do More Than Protect Others During COVID-19: Reducing the Inoculum of SARS-CoV-2 to Protect the Wearer. Journal of General Internal Medicine